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América Latina não será prioridade para Obama, dizem analistas

Sem grandes modificações ou iniciativas, mas com uma mudança de tom. É assim que a maioria dos analistas em Washington descrevem as prováveis políticas de Barack Obama para a América Latina.

A dura realidade para aqueles que sonham com que Obama traga um novo tempo para as relações entre os Estados Unidos e a região é que o presidente eleito tem outras prioridades: uma recessão econômica em seu país e as guerras no Iraque e no Afeganistão.

“Estes serão os pontos principais antes de outros assuntos, inclusive a América Latina”, diz Daniel Erikson, analista do Inter-American Dialogue. “Mas deve haver uma mudança de estilo para com a região – com menos didatismo e mais interesse na construção de um consenso e com um trabalho por meio de organizações multilaterais”.

Apesar de haver importantes áreas de interesse comum entre a região e os EUA, como comércio, imigração e o combate ao tráfico de drogas, a América Latina quase não foi mencionada durante a campanha presidencial.

Mesmo a guerra contra as drogas e o gasto de bilhões de dólares na Colômbia no combate ao narcotráfico foram pouco citados, sendo vistos com assuntos sem grande apelo doméstico nos EUA.

É uma grande mudança em relação a duas décadas atrás, quando cerca de um em cada quatro americanos pensava que o combate às drogas deveria ser a prioridade do governo.

Segundo analistas, deve haver pouca pressão sobre Obama para que ele faça alguma mudança na política de combate às drogas dos EUA.

Obama já se declarou a favor do plano Colômbia e do gasto de US$ 400 milhões na Iniciativa de Mérida, plano para combater o narcotráfico no México e na América Central.

Cuba

Entretanto, uma das áreas onde deve haver algumas pequenas mudanças com novo governo é em relação a Cuba.

Durante a campanha, Obama afirmou que iria suspender as restrições do governo Bush para que cubanos-americanos viajassem à ilha para visitar familiares.

Ele também sinalizou que pode mudar a política de envio de remessas ao país. Estas duas políticas recebem muito apoio dos cubanos nos EUA.

Obama afirmou que tomaria essas medidas “imediatamente”, mas ainda não está claro o quão breve isso pode acontecer.

Entretanto, há poucas chances de uma grande mudança no embargo de 46 anos dos EUA contra Cuba.

“O lobby de cubanos-americanos colocou bastante dinheiro nas campanhas para o Congresso, então é improvável que a Casa acabe com a paralisia em relação a Cuba”, opina Erikson.

Larry Birns, do centro de pesquisas Council on Hemispheric Affairs, concorda que não deve haver grande expectativa em uma mudança dramática na política de Obama para a região.

“Qualquer ação maior ou pronunciamento em relação à América Latina só deve ser feito em doze ou dezoito meses”, disse.

Mas Birns vê alguns fatores que podem mudar a política dos Estados Unidos em relação a Cuba no longo-prazo: a descoberta de reservas petrolíferas no país, que deve gerar interesse em empresas americanas, o crescente número de companhias que querem comercializar produtos agrícolas com a ilha, e o abrandamento do sentimento anti-Castro entre a segunda e a terceira geração de cubanos-americanos.

Diplomacia direta

E sobre os possíveis encontros de Obama com o presidente cubano Raúl Castro e o venezuelano Hugo Chávez, que o democrata afirmou que poderiam acontecer sob certas condições?

Isto vai depender muito de como Chávez vai reagir a Obama, a quem ele terá muito mais dificuldades em ridicularizar do que Bush.Uma possível indicação sobre o que vai acontecer pode vir em abril, quando os presidentes da região devem se encontrar na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago.

Em uma entrevista à BBC, Dan Restrepo, um dos principais assessores de Obama para a América Latina, levantou a questão da “diplomacia direta” citando uma frase do presidente John F. Kennedy: “Não devemos negociar por medo, mas não devemos ter medo de negociar”.

Livre comércio

O presidente eleito dos Estados Unidos tem fama de ser contra acordos de livre comércio.

Ele inicialmente falou em renegociar o Nafta, tratado de livre comércio entre EUA, México e Canadá, mas voltou atrás mais tarde. Segundo analistas, é muito improvável que o Nafta seja modificado.

Obama também votou a favor do acordo de livre comércio com o Peru, mas é contra a proposta de um tratado com a Colômbia, afirmando que líderes sindicais foram mortos no país.

“O tratado de livre comércio com a Colômbia será objeto de disputa no Congresso ainda antes da posse de Obama”, diz John Walsh, do centro de pesquisas Washington Office on Latin America (WOLA).

“A Casa Branca que colocá-lo junto com um pacote geral de estabilização da economia que deve ser aprovado”, diz Walsh.

Para ele e outros analistas, o novo Congresso dos EUA deve ser ideologicamente mais restrito em relação ao livre comércio, o que pode dificultar novos acordos com a América Latina.

Brasil e imigração

Uma questão que interessa particularmente ao Brasil é a atual sobretaxa que os EUA cobram sobre a importação de etanol, que McCain prometia retirar mas Obama deve manter.

Outro assunto de interesse para o Brasil é a Amazônia. Obama falou vagamente durante a campanha sobre seu “interesse em manter as florestas latino-americanas”.

Sobre a questão da imigração, Obama afirmou durante a campanha que quer reforçar os controles nas fronteiras, mas também citou um plano amplo para estabelecer um caminho para legalização de imigrantes.

“A imigração era um assunto quente, mas a questão recuou depois que o contexto mudou. Muitos imigrantes já estão retornando para seus países por causa da recessão econômica”, diz Dan Erikson.

Imigrantes mexicanos foram particularmente afetados pela desaceleração dos setores de construção e turismo nos EUA.

Influência

Obama foi muito criticado por nunca ter colocado os pés na América Latina. Por isso, alguns observadores não descartam uma visita de algum de seus altos assessores à região ainda nos primeiros meses do governo, para mostrar o novo estilo e os interesses na nova administração.

Uma pesquisa recente feita em 18 países latino-americanos pelo instituto Latinobarómetro mostrou que 29% dos entrevistados achava que não haveria diferença para a região qualquer que fosse o candidato eleito nos EUA.

Outros 31% não sabiam responder qual dos candidatos à Presidência dos EUA seria melhor para a América Latina.

Esta aparente indiferença e ignorância é, segundo analistas, um sintoma de como os EUA perderam influência e prestígio na região.

“Obama vai se preparar para ser respeitoso e colocar estas relações nos eixos novamente depois dos oito anos de governo George W. Bush”, diz John Walsh.